A Hemeroteca do Arquivo de Rio Claro: dados e curiosidades I.
A palavra hemeroteca (do grego heméra, que significa “dia”, mais théke, que significa “depósito” ou “coleção”) refere-se a qualquer coleção ou conjunto organizado de periódicos (jornais ou revistas). Pode ser uma seção de biblioteca apenas reservada à conservação de material escrito deste gênero, a uma coleção temática de recortes de jornais e revistas ou, mesmo, uma base de dados, em suporte informático, com material proveniente deste tipo de publicações.
No Arquivo Público e Histórico “Oscar de Arruda Penteado” de Rio Claro todo cidadão pode ter acesso a diversos jornais produzidos na cidade no curso de sua História dentro do lapso temporal do início do século XIX até a atualidade.
Alguns dos periódicos disponíveis para consulta no Arquivo de Rio Claro são: O Alpha com datas limite entre 1901-1928. Fundado em 1878, esse periódico possuía um caráter noticioso e literário, publicava artigos sobre a cidade de Rio Claro e seus costumes, anúncios comerciais, indústrias e sobre eventos sociais. O Diário de Rio Claro, desde 1933 até a atualidade. Fundado em 1º de setembro de 1886, originado do bissemanário O Tempo. Os primeiros anos do jornal foram marcados por uma atuação bastante destacada nas campanhas pela Abolição e pela República. Em 1932, devido a seu apoio ao movimento constitucionalista, sofreu violenta represália por parte dos simpatizantes de Getúlio Vargas, tendo praticamente todo seu valioso arquivo, já quase cinquentenário, destruído. E o Cidade de Rio Claro, fundado em 1934 e com circulação até os dias de hoje.
Neste artigo colocamos em destaque algumas possibilidades de consulta, visualização e análise dos jornais que o Arquivo de Rio Claro possui sob sua guarda. Uma característica muito marcante dos jornais são as propagandas em diversos formatos e clientes. A análise das peças publicitárias podem fornecer evidências das mudanças no espaço organizado e construído na cidade capazes de configurar as relações sociais e explicar as condições de vida e etapas da evolução das cidades.
Em mensagens institucionais e de promoção das mais diversas causas sociais, os jornais divulgam festas populares, encontros políticos e profissionais, eventos, esporte, cultura, lazer, colunas sociais e necessidades específicas como doação de agasalhos e dinheiro para entidades filantrópicas e causas assistenciais.
No entanto, para ficar mais restrito há um tempo ainda recente, destacamos algumas propagandas e anúncios da década de 1970 contidos no Cidade de Rio Claro.
Imagem 1: Propaganda da Skol – refresca prá valer!
Em 1972 o jornal Cidade veiculava com muita frequência anúncios da cervejaria Skol. A Skol de Rio Claro era uma importante indústria da cidade. Patrocinava diversos eventos badalados e regados ao cremoso e apreciado chopp feito em sua fábrica. Além disso, era a mantenedora de diversos postos de trabalho. Era uma indústria realmente de destaque regional e nacional. Nas páginas dos jornais podemos acompanhar os eventos que a cervejaria patrocinava, os novos investimentos da fábrica, os novos produtos, novidades tecnológicas como a primeira cervejaria a enlatar sua cerveja, os funcionários importantes, visitas de celebridades, ou seja, todo o envolvimento e a importância da companhia na cidade durante sua História.
Não obstante a isso, a propaganda destacada acima trazia uma marca muito contemporânea ainda nos dias de hoje: o vínculo do ato de beber uma cerveja com o prazer, o relaxamento, a refrescância do calor de um país tropical. Se beber cerveja o indivíduo se refrescaria.
E para quem achava que a garrafa popularmente conhecida como “Romarinho”, que possui 300 mililitros do líquido alcoólico era coisa moderna, recente, a cervejaria Skol produzia as garrafas romarinhos na década de 1970 em Rio Claro.
Imagem 2: Garrafa “romarinho” da Skol.
Na peça da imagem 3 a cervejaria salienta o corpo escultural de uma jovem mulher de biquíni segurando várias garrafinhas de cerveja. Este seria o “Equipamento de verão” ideal para o brasileiro. Mas a propaganda não parava aí, pois, “outros equipamentos” também eram necessários além desses: “bermuda, camisa aberta ao peito (ou camiseta), chinelo, boné ou chapéu de palha, leque (não aconselhável para homens), ventilador ou ar condicionado (cuidado com o resfriado).” No entanto, todos esses “equipamentos” do brasileiro seriam “perfeitamente dispensáveis, quando você tem Skol ao lado”. Porque com a cerveja nas mãos o cidadão poderia beber “um copo depois do outro, depois do outro, depois do outro, refrescando por dentro, como nenhum outro equipamento”.
Imagem 3: Skol, o equipamento do verão.
Ora, ao visualizarmos as propagandas de bebidas alcoólicas dos dias de hoje, podemos considerar que as diferenças não são tão gritantes. Tanto no passado como no presente as propagandas exploram mulheres esculturais em pequenos (ou minúsculos) trajes exaltando a sexualidade e depertando a cobiça dos homens. O vínculo entre o consumo de uma cerveja gelada com a refrescância ao calor tropical do Brasil, aliado a exploração da sexualidade nata do povo, em especial, da mulher brasileira perpassa a História do Brasil. Se pensarmos que o jornal ainda era o principal (ou um dos principais, pois o rádio conseguia abranger um público enorme) veículo de informações do brasileiro naquele período, podemos considerar que as propagandas de cervejas (e outros produtos) nos dias atuais são muito diferentes, vulgares ou apelativas nos dias de hoje? Não cabe ao historiador julgar, pois ele não deve julgar a História, ele apenas a analisa e compara.
O que pretendemos com os artigos nessa coluna do site do Arquivo de Rio Claro é aguçar, estimular ou proporcionar visões e possibilidades que as fontes históricas do acervo da autarquia podem levantar e trazer ao público em geral. Todos os cidadãos estão convidados a mergulhar em nosso acervo. Venha e conheça a História de sua cidade através dos mais variados documentos que estão sob a guarda do Arquivo.
Os jornais, como disse Gilberto Freire (em O escravo nos anúncios de jornais no séc. XIX), para quem “tiver a pachorra de folhear a coleção de um dos nossos diários dos princípios ou do meado do século XIX – o que exige um extremo cuidado, porque o papel muitas vezes se desmancha de podre ou velho nos dedos do pesquisador menos cauteloso –, quem tiver essa pachorra e esse cuidado há de acabar concluindo como o diplomata português: mais do que nos livros de história e nos romances, a história do Brasil do século XIX está nos anúncios dos jornais.” Contudo, o jornal é apenas um dos documentos possíveis de acesso a essa História, minha, sua, de nossa cidade e de nosso país.
Venha e “descubra a vida”. Não com uma “Crush” gelada (quem na casa dos seus 30 anos não se lembra da Crush?!), mas com o acesso aos documentos da História de Rio Claro.
Imagem 4: Refrigerante Crush.